12/06/2017

Língua-de-trapos 5

                                                                (https://www.shutterstock.com)


Num artigo publicado num suplemento Negócios & Estratégia do Jornal de Negócios, no dia 5/11/2002, escrito por João António Tavares, pode ler-se:

[…] «Independentemente da análise dos níveis de progresso nacionais, que conduz normalmente a uma discussão do tipo “garrafa meia vazia” ou “garrafa meia cheia”» […]

Esta expressão metafórica (grifada a negrito), plena de força argumentativa, entrou na moda discursiva nas últimas três décadas e continua a merecer a preferência dos melhores oradores. Até aí, nada a comentar. E estaria tudo bem, não fosse o uso incorreto da palavra “meio”. Trata-se de um adjetivo adverbiado e, como tal, tem de submeter-se às limitações morfológicas dos demais advérbios, sendo umas das quais a ausência de flexão em género.
Assim, estarão corretas as frases seguintes:

A garrafa está meio cheia.
A garrafa está meio vazia.
As garrafas estão meio cheias.
As garrafas estão meio vazias.

Claro que nada impede ninguém de se dirigir a uma casa de pasto e pedir meia garrafa de vinho tinto para acompanhar uma boa posta de bacalhau frito. A botelha virá para a mesa com a sua capacidade ocupada pela metade. No entanto, isso em nada contradiz o que antes referi, pois, neste caso, “meia” ocorre como adjetivo e pode assumir o género feminino, como todos os adjetivos que se prezem.
Esta tendência de flexionar o advérbio “meio” tornou-se irresistível e, por isso, muitos são os que tombam nessa tentação.
Vejamos mais um exemplo, agora retirado do jornal Público (edição online), do dia 12/06/2005, da autoria de Mário Mesquita:

[…] «Alguém perguntou: que fará Serge Dassault se existirem, nas publicações do seu grupo, jornalistas que só apreciam "metade" das suas ideias higiénicas? Olhará para a garrafa meia cheia ou meia vazia?» […]


Bom, por hoje é tudo, pois a minha cabeça está meio cansada.

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