O “comer” está pronto!
Quando se fala
em regionalismos, rapidamente nos vemos empurrados para discussões em torno da
pronúncia desta ou daquela região. Acontece que eles também ocorrem em outros
planos de análise (lexical, sintático, morfológico ou semântico).
Também não vou
dedicar esta minha pequena reflexão às velhas questões de variedade lexical,
elencando palavras típicas desta ou daquela região. Sobre isso, já muito de
disse e não menos foi escrito.
Há dias, fui
convidado por um amigo para almoçar na sua casa. Foi um momento agradável, não
só pelo que se comeu, mas sobretudo pelo que se conviveu. Era uma massada de
bacalhau, confecionada à boa maneira beirã. Até aqui, nada de especial resulta
para os propósitos da língua portuguesa. Acontece que, a dada altura, esse meu
amigo trouxe até nós a panela com o delicioso petisco (já anunciado pelo aroma
prometedor que antes entrara na sala), enquanto proferia a seguinte frase:
- O comer está
pronto!
Ouvi e
registei. Estava encontrado um regionalismo que a muitos passa despercebido. O
“comer” usado como nome (ou substantivo). Não, não se trata de um mero uso
nominativo de um verbo. O que aqui está em causa é outra coisa diferente.
Vejamos os
seguintes exemplos:
(1)
O correr faz bem à saúde
(2)
O dançar liberta-nos
(3)
O escrever ajuda a precaver erros de ortografia
(4)
O comer está na mesa
Em todas as
frases, temos o uso nominativo de verbos (correr, dançar, escrever e comer),
algo perfeitamente comum na nossa língua. No entanto, só em (4) temos esse uso
para um referente concreto, isto é, para um produto (o comer em vez de comida).
Já em (1), (2) e (3), estamos na presença de um frequente uso nominativo de
verbos, referenciando processos e não objetos/coisas.
Bom, agora
tenho de terminar, porque tenho de ir fazer o “comer”.
Até já.
Que comer tiveste que ir fazer, Alcídio?
ResponderEliminar:-)
Bom 2017!
Alex, fiz uma roupa-velha que estava uma delícia.
ResponderEliminarUm manjar dos nossos tempos!
Como costumas dizer,
Abrax.