03/05/2015

Porque hoje é dia da mãe, deixem-me ser lamechas!

Whistler - mother

Porque hoje é dia da mãe, deixem-me ser lamechas!

Porque hoje é o dia daquela que me deu dia, deixem-me ser como o Decio!


MEU POEMA ACORDA DORIDO!


Manhã virgem manhã cedo
meu poema acorda dorido
manhãs frias
vai à igreja vai à missa
em pernas de pressa:
ó Senhor pão às minhas crias.

Meu poema sofre a madrugada
a espreitar a aurora
acarreta água ensonada
enche bidão enche tamborão
de olho na torneira
música sofrida no coração.

Dorme insónias na noite escura
acorda constrangido a praça
a vender gelados
compra esperança
recebe troco ternura
bem diz os kwanzas bem diz trocados.

Caminha um sol abrasador
preocupação no rosto
meu poema tem dor
a rusga a falar serviço militar
a rusga: kwata-kwata miúdos a passear
kwata-kwata miúdos, oh desgosto!

Meu poema desperta alvorecer
lava roupa amontoada no tanque
rebenta mãos de sofrer
vende gelo no Roque
e sofre filho fugidio emigrado
filho mwangolé exilado.

Meu poema dorme cansado
é pai mãe marido mulher...
cuida os miúdos
atende o marido
dorme dorido prazer
dorrme dorido sonho de trocados.

Meu poema dobra joelhos em manhãs frias:
ó Senhor pão às minhas crias!

2 comentários:

  1. Um beijo em língua portuguesa para todas as mães PORTUGUESAS, dos PALOP, de TIMOR, do BRASIL e da DIÁSPORA lusitana.

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  2. Decio Bettencourt Mateus, um poeta angolano em ascensão. Este é dos bons. O tempo far-lhe-á o merecido reconhecimento.

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